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Por Carlos Augusto Brandão

Já foi dito que a primeira função da crítica deve ser a de dar elementos para os espectadores pensarem um filme e prolongarem as mensagens que porventura ele traz à tela. 
Mas, o que dá à crítica a “autoridade” para se posicionar acima do entendimento dos espectadores e indicar-lhes os aspectos que devem ou não ser objeto da atenção que leve à reflexão do que um filme traz de enriquecedor, esclarecedor ou digno de maiores meditações?

 

Devemos ter em mente que a crítica cinematográfica é, em síntese, uma opinião pessoal sobre um filme qualquer, opinião essa baseada na experiência, estudos e sensibilidade pessoal.

Cada fotograma que compõe um filme, seja ele de qualquer gênero ou bitola, preto e branco ou a cores, longa ou curta , traz gravado uma mensagem que atinge individualmente o cérebro de cada espectador que o assiste. E a mensagem, seja ela qual for, é mentalmente traduzida segundo as experiências de vida e os valores de cada pessoa que está assistindo ao filme. Individual e subliminarmente, o espectador “escolhe” os personagens para se identificar ou rejeitar, os aspectos da história que gratificam ou incomodam o seu subconsciente.

 

O crítico, uma individualidade única como qualquer outra, também traz para a experiência de assistir a um filme seus valores pessoais éticos e estéticos acumulados ao longo da vida. A única diferença entre ele, ou ela, e o cinéfilo comum – e que lhe dá a “autoridade” mencionada lá em cima – é o olhar treinado pela experiência profissional e o estudo da arte sobre a qual exerce a atividade de criticar. O discurso sobre significados e significantes, sistemas internos e observação da obra e suas mensagens dentro dos códigos estabelecidos pelos compêndios faz parte desses estudos, mas é apenas um dos instrumentos de análise de um filme. 
Já a sensibilidade pessoal é uma questão do espectador a possuir aguda, em maior ou menor grau, e certamente não é privilégio de nenhum crítico de nenhuma arte praticada por nós humanos.

Em resumo, o crítico não detém a propriedade da “verdade” sobre um filme, que é visto por cada espectador dentro do seu universo pessoal de experiências e valores. Cada pessoa que está na platéia, portanto, vê um filme diferente, pois sua mente é atingida por mensagens que são “traduzidas” dentro de seus próprios códigos individuais.

 

Mas a crítica também tem outros aspectos, entre os quais talvez o mais importante seja o necessário envolvimento e um compromisso direto com a qualidade do produto final e com os aspectos culturais, sociais e políticos de uma obra de arte cinematográfica. 
À crítica cabe ainda o papel vital da formação de novas platéias – sem as quais o cinema na prática passa a inexistir: ao dar ao público subsídios para o aprimoramento de sua experiência cinematográfica, afeta diretamente a melhoria da qualidade da produção, da distribuição, das condições de exibição dos produtos e, em conseqüência, da afluência dos espectadores às salas de cinema.

À atividade da crítica cabe zelar, portanto, pela pluralidade da produção artística, pela viabilidade da produção e distribuição de obras que não transitem necessariamente pelo chamado “cinemão”.

De algum tempo para cá, no entanto, essa atividade fundamental para o desenvolvimento artístico e econômico do cinema como um todo vem assistindo ao atrofiamento progressivo dos espaços que as publicações vêm destinando à área das artes em geral e, mais especificamente, à crítica cinematográfica.

Imemorialmente, os antigos filósofos chineses já nos ensinavam que toda crise traz nela embutidas janelas de oportunidades: neste caso dos espaços minguantes na imprensa convencional, essas oportunidades surgiram nos meios quase ilimitados dos sites da internet, cada vez mais ricos em informações e áreas para discussão e difusão do pensamento cinematográfico.

Existe hoje na rede um bom número de sites e blogs onde o cinéfilo pode encontrar rapidamente um manancial muito grande de artigos, reflexões, estatísticas e notícias sobre praticamente qualquer aspecto da arte do cinema. Críticos novos e/ou experimentados têm nos trazido novas visões e espaços de discussão e debate. Alguns sites trazem o bônus da possibilidade da participação interativa, direta e instantânea dos navegantes, abrindo espaços para que as suas visões, concordâncias e discordâncias enriqueçam os textos publicados.

Ser um Crítico de Cinema

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